Depois de uma jornada que começou nesta quinta-feira, às 8h50m (horário de Brasília), e só deve terminar em 18 de fevereiro de 2021, o veículo Perseverance, da Nasa, estará pertinho de Marte.
A essa altura, viajará pelo espaço a 28 mil quilômetros por hora e já terá enfrentado desafios complexos, como o próprio lançamento a bordo do foguete Atlas-V, no Cabo Canaveral, na Flórida (EUA). Será quando ficará diante de sua manobra mais arriscada: a travessia da atmosfera e o pouso no planeta vermelho. Tudo acontece em sete minutos.
“Em sete minutos, a velocidade precisa baixar para zero, de uma forma controlada. Essa operação começa a mais ou menos 100 quilômetros da superfície, com a entrada na atmosfera, quando o veículo começa a sentir o atrito. O ar é super rarefeito mas, mesmo assim, vira uma bola de fogo na entrada da atmosfera”, explica o cientista brasileiro Ivair Gontijo, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL, na sigla em inglês), integrante da missão Mars 2020.
Mais de 80% da velocidade do Perseverance é perdida nesse momento. É quando o paraquedas supersônico abre.
“Ele é enorme, com 21 metros de diâmetro. A velocidade diminui muito. Mas, como estamos em Marte, o ar é muito fino, e o paraquedas não segura o veículo por muito tempo. Ele vai murchar”, diz Gontijo.
Justamente por isso, os engenheiros da Nasa tiveram que bolar um sistema para separar o veículo do paraquedas antes do impacto e permitir um pouso seguro.
Tubos com possível matéria orgânica serão deixados no planeta
A tecnologia singular que a Nasa aprimora há décadas está longe de ser o único detalhe complexo da missão. A Perseverance é o mais moderno veículo interplanetário já desenvolvido. Os planos traçados por seus construtores, há quase uma década, incluem a busca pelos vestígios de um passado com vida microbiana em Marte, em uma cratera profunda, batizada de Jezero.
Ela tem as linhas de um lago bem desenhadas, e sinalizações do delta de um rio que correu por lá em algum momento do passado distante. Mas não é só.
“Estaremos, então, preparando o caminho para os humanos”, ressalta Gontijo.
A missão da Nasa também está preparada para produzir oxigênio em solo marciano. Entre seus vários instrumentos científicos, um deles é o MOXIE (Mars Oxygen ISRU Experiment). O experimento pretende transformar CO2 (gás carbônico) da atmosfera rarefeita de Marte em oxigênio, que, um dia, poderá servir a duas funções primordiais para quem deseja fincar raízes no planeta vermelho.
A primeira delas é fornecer de oxigênio para o consumo dos astronautas que cheguem por lá. A outra é suprir naves projetadas para fazer o caminho de volta, de Marte para a Terra, algo que, por ora, ainda não tem data para acontecer.
Essas viagens de retorno coincidem com os interesses da Perseverance. Se tudo der certo, o veículo vai recolher fragmentos de matéria que indiquem a presença de carbono. Eles serão acondicionados em tubos, que serão deixados pelo rover em Marte até que outra missão consiga trazê-los para a Terra, onde atualmente já há farta tecnologia capaz de analisar esse material.
“Estamos demonstrando (como é) a tecnologia de ir para Marte, coletar amostras, trazer de volta para Terra, portanto tratando das viagens de ida e de volta e, ainda, de como produzir oxigênio no planeta. Ou seja, tratando da chegada dos humanos em Marte”, acrescenta Gontijo.
Embora a missão seja farta em ineditismo, não é a primeira vez que a Nasa procura vestígios de vida em Marte. Em 1976, a agência teve esse mesmo propósito com as duas missões Vikings, que levaram sondas ao planeta e cujo resultado foi inconclusivo.
O lançamento pode ser acompanhado no vídeo abaixo:
O Globo
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