Vem aí o cometa que promete ser a maior decepção desde o infame Ison, que foi festejado em 2013 como o potencial “cometa do século”, mas se desfez em pedaços ao se aproximar demais do Sol e frustrou qualquer espetáculo mais chamativo. O objeto da vez foi catalogado como C/2022 E3 (ZTF) e começa a se tornar mais acessível ao céu do hemisfério sul em fevereiro.
A expectativa inicial surgiu porque, quando ele foi descoberto pela Zwicky Transient Facility (ZTC), em março do ano passado, notou-se que o astro faria uma passagem notoriamente próxima da Terra. Com isso, a despeito de seu tamanho modesto (cerca de 1 km), poderia atingir um brilho aparente (magnitude +5) que beira o limite da sensibilidade do olho humano (+5,5, numa escala em que, quanto menor o número, mais brilhante).
Essa aproximação máxima dar-se-á em 1º de fevereiro, quando o cometa estará a 42 milhões de km da Terra. Ainda é um afastamento considerável, pouco mais de cem vezes a distância Terra-Lua, mas para astros desse tipo é quase uma passagem de raspão (e ainda bem, porque queremos esses objetos fora do caminho do nosso planeta).
O objeto, a exemplo de outros cometas, é uma massa de gelo e rocha que, ao se aproximar do Sol, produz uma cauda, com a sublimação do material volátil em sua superfície. O periélio, ponto de máxima aproximação do Sol, ocorreu no dia 12 deste mês, e astrônomos amadores já o vêm observando por algum tempo -mas praticamente só no hemisfério norte, de onde se pode vê-lo no momento (transitando entre as constelações de Ursa Menor e Ursa Maior).
Para o hemisfério sul, sobretudo as maiores latitudes brasileiras (Sul, Sudeste e Centro-Oeste), a geometria só começa a favorecer uma busca no mês que vem, após o perigeu. Seu brilho atinge o auge poucos dias depois, no dia 5, e entre os dias 9 a 12 fica mais fácil encontrá-lo com um binóculo ou um telescópio, pois estará próximo a Marte no céu, na constelação de Touro (localizada na direção norte-noroeste, do anoitecer até por volta de 23h).
O cometa tem uma órbita extremamente alongada, e os astrônomos estimam que, se ele fez uma visita anterior ao interior do sistema, ela deve ter ocorrido cerca de 50 mil anos atrás. Agora, contudo, acelerado pela gravidade solar, o astro foi colocado numa trajetória hiperbólica -o que significa dizer que será ejetado do Sistema Solar, convertido em um dos muitos vagabundos interestelares que deve haver por aí.
Ou seja: se você deseja realmente vê-lo, procure-o nos próximos dias. Porém não crie muitas expectativas. A olho nu, salvo em condições especialíssimas, não deve rolar. Mas ainda não dá para cravar. Astrônomos brincam que cometas são como gatos, a gente nunca sabe o que vão fazer a seguir. Por vezes esses astros sofrem explosões violentas pela sublimação do gelo e aumentam subitamente de brilho. Ainda pode acontecer.
SALVADOR NOGUEIRA – FOLHAPRESS
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